quarta-feira, 1 de julho de 2020

O CAFÉ DO CORONÉ


Reportagem de Danielle Muniz
Fotos/Camila Araújo

No coração de Bom Conselho, pulsa a história. E ela não é contada apenas na oralidade dos antigo, mas também na arquitetura que tenta sobreviver ao tempo em vários recantos da cidade.

Muitos pedaços da história estão com placa de venda e correm o risco de se tornar um empreendimento qualquer nas mãos de quem comprar.

A natural demência pública do lugar nunca permitiu uma Lei Municipal que cuidasse de seu patrimônio arquitetônico. Mas enquanto isso, no “quadro” da Praça principal encontra-se o Café do Coroné. Um ambiente preservado e agradável que reúne pessoas para o tradicional cafezinho acompanhado de petiscos diversos e boas conversar.



Na casa, morou José Abílio “Coroné”. Um dos pioneiros da história política de Bom Conselho e que foi prefeito quatro vezes e duas vezes deputado pela cidade. Um dos mais famosos líderes político da Terra do Papa Caça.

Em sua memória a Prefeitura tem o  seu nome assim como  uma escola municipal. Coroné Abílio tinha peculiaridades admiráveis por ser um homem a frente de seu tempo. Dotado de grande inteligência e perspicácia, embora só tenha estudado até a primeira série. Lá na Ditatura de 64, com a intervenção militar não pôde ser eleito por vias democráticas, mas consagrou-se pela votos ofertados pelo povo.

O Café do Coroné, pode fazer honra também a sua tradicional fazenda de café, localizada na região da Mata Verde, perto de Rainha Izabel. De lá ele plantava, colhia e vendia ao chamado Café Fino. Frequentemente reunia seus seguidores e correligionários para os assuntos políticos e, claro, servia um café aos convidados.


Nessas circunstâncias históricas entra Flavio Adriano de Souza e a esposa Camila Tenório Porto, bisneta do Coroné. Tiveram a ideia de fazer uma cafeteria em homenagem a ele. Tem 7 anos que os dois trabalham juntos e sempre se localizou na praça Dom Pedro Segundo.

Entre quartos e salas, o imóvel soma mais de cem anos e toda a estrutura secular permanece preservada com exceção de pequenas reformas e adaptações feitas no interior da casa. Tudo pode ir além do café´, pois a comida regional como lanches e o tradicional cuscuz tem um peso forte nas iguarias que vendem. Aliás, uma forte vantagem nisso é que Flávio sempre foi cozinheiro e, junto à esposa dedicam a produção de boa parte do cardápio que oferecem.

Como há mais de cem anos, o casal provocou o hábito de reunir as mais diversas gerações e as inevitáveis rodas políticas que proclamam o termômetro político da cidade entre um gole e outro do “pretinho”. Quem preferir, pode matar o tempo com um jogo de xadrez ou apenas visitar o ambiente histórico que oportunamente poderia se transformar num museu fotográfico da cidade.

Enquanto isso não acontece, é fácil imaginar em cada cômodo uma confidência, uma ordem severa, um traquejado político, uma alegria em família, uma discórdia qualquer. Afinal de contas é também para isso que servem: contemplarmos o passado em tempos de um presente que sempre desenha um futuro incerto. Vai um cafezinho?

Gerson Lima

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