Claro que se
trata de uma alegoria de lembranças das mais satisfatórias. Geraldo tá ocupado
no céu marcando a quadrilha dos Anjos. Mas todo mês de junho em Bom Conselho
sua agenda estava cheia. Foi o maior marcador de quadrilha junina da Terra do
Papa Caça e região.
Ao se
aproximar o mês do São João, os responsáveis batiam a sua porta. Confirmavam
sua presença e a noticia se espalhava rapidinho. Quem vai marcar é Geraldo da
Rua do Caboge? Então a coisa é séria. E era mesmo. Quadrilha junina pra ele
tinha que ser a Tradicional. E, sem dúvidas essa é a mais bonita. Toda ela tem
a essência de Nordeste, de cara do cotidiano da roça, tem jeito e verve do
nosso povo. Das chuvas que veem para o plantio, algumas com São Pedro enganando
a matutada até o caminho da roça que lembra veredas estreitas com as folhas de
milho roçando os braços.
A quadrilha
tradicional é mesmo uma reprodução da vida comum do nordestino. Geraldo gostava
disso. Tinha todos os passos na cabeça e uma estratégia de comandante. Os
casais mais experientes ficavam na cabeça das filas. É assim que os vaqueiros
tocam as boiadas colocando o boi mais experiente à frente do rebanho. Tem tudo
pra dar certo.
A quadrilha
marcada por ele era compassada passo a passo. Dava tempo as moças rodarem os
vestidos coloridos e deslizar calçamento a fora com leveza. “Dança quadrilha
quem sabe” – Porque: “Quem sabe, sabe. E quem não sabe bate palmas”. Dizia com
orgulho. Na verdade, bastava isso para o público ovacionar em aplausos aos
dançarinos e a noite se consumia num espetáculo de família e amigos, bom de ser
ver.
Nunca recusou
um convite, nunca chegou atrasado e jamais precisou em seu comando de ordem
destratar os componentes. Porque sob seu comando, o respeito dos rapazes para
com as moças estava em primeiro lugar. Por vezes, os filhos, Artuzinho, Anteógenes,
Geraldo Filho e Gladstone marcavam os ensaios. Mas no dia era ele. Sua
Majestade o Marcador número 1 de Bom Conselho.
De figuras
como Geraldo Cordeiro, Bom Conselho resiste as suas tradições. E nossa
homenagem aqui também vai resistir ao tempo no reconhecimento maiúsculo dos que
são imprescindíveis para a preservação da cultura e das tradições do nosso
povo. Dancê em paz seu lugar, Geraldo.
Gerson Lima
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