Reportagem:
Maria Vitória e Danielle Muniz
O
que diferencia a capital do interior da maneira mais lúdica possível são essas
coisas. Dar de cara com o inusitado, verificar verdadeiros “achados” que só
encontramos nos interiores da forma mais in natura do exercício humano. Agora
Vitória e Danielle adentram pela cozinha alheia. Vão sentir o cheiro de uma
comida típica que se contada como se faz em algumas regiões do país, muitos vão
sair de perto. Masnão é uma cozinha tão alheia assim, porque encontrar com
Terezinha da Buchada em Bom Conselho não é difícil. É a “fazedora” de buchada
mais conhecida do lugar. Nasceu Terezinha Gouveia de Azevedo e no alto de seus
66 anos, ganhou por mérito a alcunha de Terezinha da Buchada. Natural de Bom
Conselho e morando ali na rua Padre João Clemente ela é outra vitima da
demência pública de Bom Conselho por nunca ter se tornando um patrimônio
imaterial do município, merecidamente.
Buchada
é uma das iguarias nordestinas mais complexas do Nordeste e de tão complexa
pouca gente até se arrisca a comer o alimento feito por desconhecidos ou de
origem duvidosa. Com Terezinha isso já foi superado há muitos anos e ela detém
hoje a mais alta credibilidade em produzir esse prato com uma aprovação unânime
de quem prova.
Do
ritual da feitura do produto, existe um elo de confiança em todos os passos.
Primeiro vem a participação do marido, responsável pela matança do bode. Em
seguida o resto é com ela que trata e tempera. Parece simples. Mas não é. O
comedor de buchada é sujeito chato. Se for de carneiro já faz um muxoxo
dizendo: ‘A buchada é boa, mas não é de bode...é de carneiro”. Assim sendo
Terezinha vai fundo no que sabe fazer e não é pouca a quantidade de sua
produção que já completa 15 anos de cozimento. O tratamento das vísceras do
animal requer cuidados e uma higiene absoluta. A cozinheira está sempre de
touca, luva e máscaras no seu oficio enquanto ao fundo se vê panelas bem
ariadas lustrando, caldeirões limpinhos esperando os picados e uma cozinha
feita para qualquer um entrar sem cerimônias. Um ventilador espanta qualquer possibilidade
de moscas atraídas pelo cheiro forte do sangue do bode.
No
jeito simples da gente do interior, ela afirma que fazer buchada não é difícil,
mas dá muito trabalho. O que dona Terezinha não sabe é que cozinhar é uma
ciência composta de matemática, filosofia, química, física, história e
psicologia.
E no centro fica a senhora do fogão como uma grande maestrina a
reger temperos,” times” de fervura, equilíbrios de sal, mexidos, acabamentos,
tudo até chegar à boca de quem vai degustar. Aprendeu com o pai que era
marchante e hoje ela faz em média de 60 a 80 buchadas por dia. Graças a figuras
como Terezinha da Buchada, neste São João poderá não ter arrasta pé, sanfona
com forró dos bons nem fogueiras acesas. Mas buchada tem! Terezinha da Buchada
garante a sobrevivência longa de mais esse elemento da nossa cultura e da nossa
tradição.
P.S
– A cachaça para acompanhar o prato fica a seu critério.
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