segunda-feira, 22 de junho de 2020

A BUCHADA DE TEREZINHA É DE DAR ÁGUA NA BOCA


Reportagem: Maria Vitória e Danielle Muniz

O que diferencia a capital do interior da maneira mais lúdica possível são essas coisas. Dar de cara com o inusitado, verificar verdadeiros “achados” que só encontramos nos interiores da forma mais in natura do exercício humano. Agora Vitória e Danielle adentram pela cozinha alheia. Vão sentir o cheiro de uma comida típica que se contada como se faz em algumas regiões do país, muitos vão sair de perto. Masnão é uma cozinha tão alheia assim, porque encontrar com Terezinha da Buchada em Bom Conselho não é difícil. É a “fazedora” de buchada mais conhecida do lugar. Nasceu Terezinha Gouveia de Azevedo e no alto de seus 66 anos, ganhou por mérito a alcunha de Terezinha da Buchada. Natural de Bom Conselho e morando ali na rua Padre João Clemente ela é outra vitima da demência pública de Bom Conselho por nunca ter se tornando um patrimônio imaterial do município, merecidamente.



Buchada é uma das iguarias nordestinas mais complexas do Nordeste e de tão complexa pouca gente até se arrisca a comer o alimento feito por desconhecidos ou de origem duvidosa. Com Terezinha isso já foi superado há muitos anos e ela detém hoje a mais alta credibilidade em produzir esse prato com uma aprovação unânime de quem prova.


Do ritual da feitura do produto, existe um elo de confiança em todos os passos. Primeiro vem a participação do marido, responsável pela matança do bode. Em seguida o resto é com ela que trata e tempera. Parece simples. Mas não é. O comedor de buchada é sujeito chato. Se for de carneiro já faz um muxoxo dizendo: ‘A buchada é boa, mas não é de bode...é de carneiro”. Assim sendo Terezinha vai fundo no que sabe fazer e não é pouca a quantidade de sua produção que já completa 15 anos de cozimento. O tratamento das vísceras do animal requer cuidados e uma higiene absoluta. A cozinheira está sempre de touca, luva e máscaras no seu oficio enquanto ao fundo se vê panelas bem ariadas lustrando, caldeirões limpinhos esperando os picados e uma cozinha feita para qualquer um entrar sem cerimônias. Um ventilador espanta qualquer possibilidade de moscas atraídas pelo cheiro forte do sangue do bode.



No jeito simples da gente do interior, ela afirma que fazer buchada não é difícil, mas dá muito trabalho. O que dona Terezinha não sabe é que cozinhar é uma ciência composta de matemática, filosofia, química, física, história e psicologia. 


E no centro fica a senhora do fogão como uma grande maestrina a reger temperos,” times” de fervura, equilíbrios de sal, mexidos, acabamentos, tudo até chegar à boca de quem vai degustar. Aprendeu com o pai que era marchante e hoje ela faz em média de 60 a 80 buchadas por dia. Graças a figuras como Terezinha da Buchada, neste São João poderá não ter arrasta pé, sanfona com forró dos bons nem fogueiras acesas. Mas buchada tem! Terezinha da Buchada garante a sobrevivência longa de mais esse elemento da nossa cultura e da nossa tradição.

P.S – A cachaça para acompanhar o prato fica a seu critério.

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