Reportagem: Ana Clara e Danielle
Fotos: Camila
O mestre Ariano Suassuna costumava dizer que
todo escritor é um grande mentiroso. Essa alegoria bem humorada de Ariano
sempre foi amplamente compreendida nos melhores meios acadêmicos do país como
sendo uma grande verdade lúdica. Desde que a palavra mentiroso aqui ceda o seu
significado pejorativo e ganhe a interpretação dos que inventam situações,
personagens e estórias, extraídos de sua capacidade criadora e imaginativa.
Completamos ainda, essa sentença condenatória ao purgatório dos escritores,
chamando-os também de ladrões.
É o caso de Alexandre Tenório (Alexandre
Tecidos). Um larápio de primeira linha capaz de sequestrar estórias e histórias
populares e aprisiona-las em livros, sem direito a resgate. Alexandre isso não
se faz!
O filho de Juarez Tenório e Mirian de Vieira, é
natural de Bom Conselho e pratica esses delitos desde os 16 anos. Pôs os pés na
faculdade e saiu médico veterinário em 1983. Naquele burburinho do início dos
aos 80, achou por bem dar sua contribuição à cultura bonconselhense e nacional,
fundando com amigos a Confraria do Sassame. O templo de nascimento desse
movimento etílico-cultural não poderia ser outro: o Restaurante Status.
Alexandre tomou logo assento como presidente. Nada mais politicamente correto,
porque cultura e cachaça sempre foram as companhias indissolúveis dos
intelectuais.
Mas o moleque já havia sido contagiado pelo
vírus da leitura, das páginas escritas com enredos qualquer, do barulho das
folhas virando entre os dedos, do apalpar as mãos nas capinhas de livros mais
leves e, sobretudo do individualismo egocêntrico que somos capazes de ter quando mergulharmos
em qualquer livro que nos devore. Quando esses sintomas começam, até os Gibis
do Tio Patinhas e Zé Carioca são cúmplices nisso.
Então foi daí que veio o vício de roubar fatos
e feitos e aprisionar em livros. Já são cinco publicados, todos com histórias
passadas em Bom Conselho. A Tenda de Zé de Bia – Eleições de 2000, quando um
Burrinho ganhou de um Trio Elétrico – O Dia em que Bom Conselho parou – Assim
era Bom Conselho e O Dragão de Bom Conselho, e outras histórias, sua quinta
obra. O pior é que já está no forno seu sexto livro que se intitula: Dos
Valentões e as brigas de Bom Conselho.
Já avisamos que ele não vai parar. Não vai
porque os escritores não escrevem livros para ganhar dinheiro, ou para ficar
famosos, ou sequer para serem lidos.
Eles escrevem livros para se livrar deles. Ou do contrário os conteúdos
ficam cozinhando o juízo dia e noite sem parar e só cessam, quando o escritor
dar à luz. Me desculpem toda essa alegoria psicodélica, mas é que eu acho tudo
isso absolutamente belo!
O escritor Alexandre Tenório tem ocupado um
papel de extrema importância na contribuição à preservação da história de Bom
Conselho. Não existe uma cidade completa sem suas figuras folclóricas, sem suas
lendas urbanas, sem seus heróis e vilões, sem seus romances desvairados e
proibidos, sem suas tragédias. E pior do que não ter nada disso, é não ter
alguém que relate esses valiosos vestígios do tratado histórico de um povo,
divulgando-os e enaltecendo-os em seus papeis tão distintos e valorosos, quando
eles existem nos baús do passado. Alexandre Tenório faz isso em seus livros. O
conjunto de sua obra registra toda a lembrança que sequestra do insciente
popular de Bom Conselho, e estampa nas páginas de seus livros, que a gente
engole deitado numa rede dando boas risadas, levantando reflexões e
sentimentos.
Então, ler Alexandre Tenório (Alexandre
Tecidos), tem gosto de roubar goiaba no quintal do vizinho. Tem a mesma
aventura inocente de tomar banho de açude em tempo de verão, petelecar calangos
em cima de lajeiros ou de encontrar gente comum como se fosse hoje, nas páginas
de seus livros. É um ladrão impecável à espreita para o próximo roubo e será um
erro prendê-lo por causa disso. Se o fizerem ele vai escrever de dentro cela e
aí não tem quem aguente mais.
Parabéns amigo Alexandre, Deus guarde sua
senhoria.
Gerson Lima
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